Se
vamos realmente usar o poder do diálogo no exercício da liderança, será preciso
um esforço individual de autoconhecimento, aprendizado e de mudança de
comportamento nesse sentido.
Por
onde começar?
Proponho
uma estrutura que certamente trará importantes descobertas no caminho do
desenvolvimento das competências de liderança, deixando claros os pontos fortes
e oportunidades de desenvolvimento de cada indivíduo. Não se trata de nenhuma
nova descoberta, mas de revisitar conceitos e práticas largamente utilizadas
nos diversos campos do desenvolvimento humano, passando pela filosofia,
psicologia e psicoterapia, neurociência e, obviamente, pela ciência da
administração.
Vou
expor minha abordagem por etapas que, recomendo, devem ser seguidas na ordem
apresentada. Eventualmente, alguns de nós podem apresentar um bom nível de competência
num ou em outro ponto, mas, vale sempre uma nova reflexão sobre esses pontos
positivos. Afinal, como disse Guimarães Rosa em Grande Sertão – Veredas: “Os
caminhos são sempre os mesmos. O que muda são os olhos do caminhante.”
Então,
que tal começarmos pela grande reflexão que o ser humano vem fazendo desde
sempre: quem sou eu?
Um
dos meus livros preferidos tem o sugestivo título: “Quem sou eu? E, se sou, quantos
sou?” O livro traz uma visão geral de
vários tratados filosóficos clássicos e contemporâneos, passando por
questionamentos dos impactos na resposta à pergunta-título dos recentes
desafios da neurociência, física quântica, ética e moral e ecologia. Mas, o que
me faz trazer o livro aqui é simplesmente o título.
Para
a construção de diálogos produtivos no ambiente da liderança nas diversas
naturezas de relacionamento humano, é fundamental que eu possua uma visão -
ainda que não completa – sobre meus valores, minhas ideologias, minhas
fortalezas, minhas fraquezas, o que de fato importa para mim, enfim, elementos
que me tornem efetivamente um protagonista na minha própria história. Afinal,
um bom líder é aquele que conduz e para isso é importante saber e fazer o
caminho.
A
resposta sobre “quem sou eu” é, sem dúvida, uma aventura! E como tal faço esse
desafio a você. Vamos iniciar essa
viagem de descoberta? Prepare-se para as perguntas, pois elas é que irão
conduzi-lo ao destino final – ainda que seja uma pretensão neste momento.
Como
estamos a distância, proponho um roteiro.Um roteiro, como no cinema, que
orienta a evolução da estória (no caso da sua história), que define o caminho a
ser seguido. Podem existir variações (atalhos), que você pode criar, ou podem
surgir, mas, a escolha dos caminhos ou respostas será sempre sua.
O roteiro que proponho para essa viagem de descoberta é baseado na Jornada do Herói. Esse conceito foi desenvolvido por Joseph Campbell e é apresentado e aprofundado em duas obras literárias: A Jornada do Herói – Joseph Campbell Vida e Obra (Editora Ágora) e; O Herói de Mil Faces – Joseph Campbell (Editora Cultrix Pensamento). Se preferir, você pode rever a série O Poder do Mito, produzida pela BBC e disponível em DVD nas locadoras. Esse “roteiro” – e me perdoe Campbell pela redução de uma obra tão vasta e importante - tem sido largamente utilizado pelos grandes diretores do cinema, por exemplo George Lucas, que apoiou-se na jornada do herói para construir a saga Guerra nas Estrelas.
O roteiro que proponho para essa viagem de descoberta é baseado na Jornada do Herói. Esse conceito foi desenvolvido por Joseph Campbell e é apresentado e aprofundado em duas obras literárias: A Jornada do Herói – Joseph Campbell Vida e Obra (Editora Ágora) e; O Herói de Mil Faces – Joseph Campbell (Editora Cultrix Pensamento). Se preferir, você pode rever a série O Poder do Mito, produzida pela BBC e disponível em DVD nas locadoras. Esse “roteiro” – e me perdoe Campbell pela redução de uma obra tão vasta e importante - tem sido largamente utilizado pelos grandes diretores do cinema, por exemplo George Lucas, que apoiou-se na jornada do herói para construir a saga Guerra nas Estrelas.
A abordagem é simples: a construção dos mitos
e/ou dos heróis nas sociedades que construíram a nossa história nada mais é do
que um roteiro baseado na vida comum. Essa construção é complementada com
adereços e aplicações que reforçam a ideia do êxito, da virtude, do exemplo e
das imagens que podem servir de apoio à busca incessante da essência e da
perfeição do ser humano. Portanto, nossa história individual tem todos os
elementos que revestem a construção do herói ou do mito.
Para
simplificar nosso entendimento e resguardada a essência dos estudos de Joseph
Campbell, veja a seguir as principais etapas da construção do mito e da jornada
do herói.
Recomendo que na leitura inicial projete a sua vida neste roteiro. Está escrito para você pensar assim.
Recomendo que na leitura inicial projete a sua vida neste roteiro. Está escrito para você pensar assim.
O mundo comum
Pense no
contexto e a na base onde você vive. O
cotidiano e a rotina do dia a dia. Esse contexto é fundamentado em
conhecimentos já consolidados e em padrões já estabelecidos. É natural que você
esteja acostumado a utilizar os mesmos métodos para coisas diferentes. Mas, os
desejos pelo novo já estão presentes, com diferentes graus de intensidade.
Chamado à aventura
De repente,
surge um desafio e sementes de possibilidades são lançadas. Provoca-se uma
descoberta de que pode haver um mundo diferente, cheio de novas alternativas. Uma
aventura nova para se viver e que pode agir como uma tentação – num primeiro momento.
Apresenta-se um convite para sair do conforto diário e uma mensagem ou um
mensageiro chega com a notícia de que chegou a hora de mudar.
Recusa ao chamado
Mas, seu
primeiro sentimento é que não é uma brincadeira, é um jogo de alto risco. Você
tem medo, quer manter a segurança do mundo como você conhece. Fica pensando nas
coisas que pode perder se não der certo. Você receia não saber lidar com os
novos conhecimentos e expectativas, ou não ter competências suficientes. Essa
aventura pode ir contra seus valores, crenças e conforto atuais. Você abandona
a busca, foge do desafio, normalmente encontrando uma série de boas
justificativas.
Encontro com mentor
Mas, o desafio
continua presente, pois representa o vínculo entre onde estou e onde quero
estar. De repente, surge um “mentor” que prepara para os desafios com
conselhos, orientação, fortalecendo a confiança. Esse mentor pode ser uma
pessoa, um livro, um filme, uma reflexão, enfim, algo ou alguém que me retorna
à claridade do desafio. Podem ser heróis com experiência bastante para ensinar
outros ou desconhecidos. Mesmo que não haja uma pessoa, sempre há um encontro
com a sabedoria, com a experiência. Durante a aventura podemos ter vários
mentores, nos diferentes estágios da jornada. É preciso estar atento. Mas ele
não pode estar junto por todo o caminho. Você precisa conduzir sua própria
história.
Travessia para seu próprio
interior
É o momento em
que você decide agir e aceitar o desafio. Um ato voluntário onde você se
compromete e se dispõe a aceitar as conseqüências (positivas e negativas) da
sua escolha. Normalmente, nesse momento o comportamento típico é não aceitar
conselhos e sair disparado em busca da aventura. Você esquece o medo e enfrenta
a primeira prova.
Testes, aliados e inimigos
Ao longo da
primeira prova, você descobre quem e o que pode ajudar ou atrapalhar. Você
começa a experimentar o aprendizado de uma nova vida, sob novas regras. Está se
adaptando ao novo mundo, deixando de ser “calouro”; vale-se de experiências e
conhecimentos anteriores. Um grande inimigo pode ser descoberto ou
reencontrado, assim como novos aliados. Você começa a se preparar para o grande
desafio. Nesse estágio você forma parcerias, encontrando-se com outros que tem os
mesmo interesses comuns. Uma equipe está surgindo.
Provação máxima
No confronto
direto com o desafio você enfrenta momentos de muita tensão e pressão enormes. Será
que vai dar certo ou não? É um momento crítico. Você não pode viver essa
experiência sem se modificar de alguma maneira. O prêmio que se avizinha é o renascer
para nova vida e a possibilidade de mudar o mundo comum no qual você vive.
Conquista da recompensa
A jornada está
chegando ao final e você sente o prazer de vencer o desafio, ultrapassar os
limites. Sente-se um herói, reconhecido como especial e diferente e toma posse
do “prêmio” que se buscou durante toda a jornada. Agora, fortalecido, você
sente que muitas possibilidades são abertas, até mesmo um novo mundo. Você se descobriu
e aceita como é, com as forças e fragilidades que fazem parte de você.
O caminho de volta
É chegada a
hora de administrar as conseqüências do final da aventura e dos seus
resultados. Criar um mundo comum com mais sabedoria, mais experiência, frutos
do aprendizado da jornada. Você está preparado para lidar com os sentimentos
decorrentes de ter ultrapassado o desafio e, novamente, alcançar o patamar de
conforto. Uma nova aventura vai se iniciar...